Joe Arthuso

NOSSO AMOR

Meu pedacinho de sol refletido em uma poça d’água nas ruas que nem sabemos os nomes
e quem são os homens que pisam e para onde vão.
Nosso amor
Mais útil que um apêndice em nosso corpo animal que Deus escreveu com linhas de sangue e contornou com traçadas de distopia.
Nosso amor
Chuva que não quer passar no domingo, que não semeia o fruto de nossos filhos – tão órfãos quanto o dia que passamos contemplando as janelas da alma.
Nosso amor
Uma poesia esquecida em uma carteira de escola, um bilhete que voa aleatório no terreno baldio do ódio.
Nosso amor
Promessas políticas, gritos anarquistas no bar, um gato correndo arisco, pra onde? Onde não há perigo?
Nosso amor
Uma neurose sem sentido, um cuspir de fumaças que formam bocetas distorcidas no retrato de Freud.
Nosso amor
Um quadro do Senhor Dali derretendo no tempo de seus cabelos brancos.

Foto de Gerald Larocque.