Edson Valente

TINTEIRO

A palavra
Espezinha a dormência
Revivendo mortos
Grafismo da memória que
Restou
Encosto da alma
Fazer durar o que nem nunca se
Deu
Garranchos coroados da súplica
Que a boca ocultou
Escuridão pró-forma
No beco da sinapse o caco de vidro
Da garrafa que o coração atirou

Grito traduzido
É fim em si mesma
Se escrita à luz da incompreensão
Do leitor

Se a palavra preenche os vazios da página
Com o deserto do que simula
Em enxuto amargor
Indizível é a tristeza dos olhos que deságua
Às margens do papel
Marejando a dor que ainda não
Secou.

Foto de Donjuki.