Cruzeiro Seixas

A NOITE CHEGA COMO UMA DETONAÇÃO.


A noite chega como uma detonação.
O arrependimento é uma chuva opaca,
e tudo impede a verdadeira morte,
a gratificação de uma estrela
esverdeada.
Eu vos digo tanto pior,
tanto pior para os outros animais flutuantes.
É abrir um seio para ver um ovo,
e saudá-lo oficialmente em pleno circo,
é visitar os subterrâneos
durante o número dos trapezistas.
É querer que
a aliança de um pássaro e de um peixe
gerou estes olhos,
gasômetros ardendo
e o absurdo de uma vela,
mal iluminando a escrita.
Nós vemos que não há copos vazios,
vemos que um terremoto é um beijo alucinado:
ouvimos um tronco docemente adormecido entre a folhagem,
projetando a clássica sombra alongada,
passageira negra descendo a dunas como uma flauta.
Ponham agora a luz entre as tuas mãos,
pequenas sepulturas nuas,
e o furor da cobra querendo ser um rio,
do rio querendo ser uma cobra,
traz o batimento dos tambores interiores,
o som das flores no cabelo,
os sinos carnais
anunciando a carta desaparecida,
totem de uma ilha deserta.