Oscar Bertholdo

REFRÃO REZADO

Não busco em ti o fruto
da tarefa finda.
Em tuas mãos a sombra une
um desejo antiquíssimo
de impedir a sede.

Não pergunto teu nome
mantenho-me de pé ávido,
insisto apenas em rever
o doce espanto de colher
a dor e pedir uma fonte
para os pés feridos.

Há sempre o outro lado da margem
e agora impacientes
os olhos voltam domados
a preparar acréscimos
como a sombra de uma árvore.

Vi na tua sandália, e o bordão,
imediato, intato.
Teus passos minuciosos
entreabriram o que existe
de segredo em ti.
Teu véu abriga promessas
na amplidão de quem sofre
por todos os mil pedaços
de esperança.
A vida é muito abismo. Quase
só túnica esfarrapada... Longe de tua casa.
Como sempre dos teus braços
pende a sucessiva humildade
que vem com a fadiga da colheita
entre os limites e a coroa de espinhos
previstos para a vida inteira.
Bem-aventurados os que andam...