Oscar Bertholdo

TENTAÇÃO 26

Nasce este poema, de joelhos.
Sou o que busca
porto de ancorar.
É tão simples estar
de joelhos longe de todos e
ver no tempo o próprio rosto refeito
e nele todos os dias
com seus cansados desejos
com os renovados desejos
sob o peso constante
de Deus.

Ando para o múltiplo
vale com sede de tudo
e chego sabendo
que não poderei criar
outro corpo igual ao meu
outra carne semelhante à minha
(meu nome será
herdado por ninguém).

Ninguém soletrará
um dia os sons do meu nome
ninguém para me amaldiçoar
ninguém para me perdoar
ninguém para me dizer
que meu sangue foi semente
... e
germinei nos campos de batalha
onde arranquei as raízes
dos mais úteis possíveis
pelo valor da mensagem
que eu carrego nas mãos
sem a menor malícia
com os lábios tintos
de humildade.

Ando para a lembrança
com sede de tudo
(ninguém para herdar
o meu nome)
ando continuamente.
Um dia será ouvida
a minha canção.