J. P. Marcowicz

NINGUÉM É SINCERO DE PAU DURO

Num quarto escuro
iluminado apenas pela luz da lua
e pelo letreiro de neon da Budweiser pregado na parede
ouvíamos as ‘’love songs’’ do Chet Baker
no rádio que comprei por 30 conto
em uma loja de usados no centro.
“Hoje fizemos mais que sexo’’
disse-me sorrindo
enquanto fazia um rabo de cavalo no cabelo.
Com a mão na sua buceta ainda encharcada
olho para seus olhos de gueixa do interior do Paraná e digo:
‘’Eu te amo’’.
Ninguém é sincero de pau duro.
Andaram me dizendo
que você anda se embriagando
e dando pra uns playboys
porque eu parei de atender suas ligações.
Se não atendi
é porque eu estava me afogando no gim
tentando esquecer sua foda meticulosa
e teu sorriso desconsertante.
Se eu fiquei com um pedaço do teu coração
então estamos quites,
porque ainda não me devolveu
o livro da Hilda Hilst,
que você disse que leu inteiro
num domingo de ressaca
dum porre de vodca que seu pai
trouxe do Paraguai.

Foto autor desconhecido.