Eduardo Paiva

ORQUÍDEA

Entre tuas roupas penduradas atrás da porta
No meio da sua agenda esquecida na estante
No fundo no baú azul que você dera
Na tua fatura do cartão que esquecera em cima da geladeira
Em tudo que minha retina esclarece nada me foge

A nossa velha poltrona que teu pai nos deu
Meus discos do Belchior
Tua orquídea na sacada
Teu lenço vermelho esquecido no bolso da minha calça
Tudo vem a tona pela manhã nos motivos que não destes

A parede que desenhaste com carvão
Nos pratos amarelos que compramos na feira
Na esquina da rua que comprávamos pão
Tudo segue sendo um velho lugar
Que nunca mais passaremos

Eu e você no espaço de tempo que não teremos
Nas palavras que não dizemos
Na ânsia que não soubemos  calar
Consigo escutar o silêncio do teu olhar

nas cinzas do meu cigarro que acaba nesse momento.

Foto autor desconhecido.