Alline Frazão

(IN)CAOS

Ele é o caos que eu desconheço. E desconhecer um caos é tão perigoso como correr de olhos fechados em um campo minado. E quando ele chega derrubando tudo, deitando no seu sofá e pedindo um novo café, a força amortecedora é se jogar no sofá com ele.

No entanto, há de se ouvir os sussurros do outro. Há de se perceber que você não é o caos alheio. Há de se calar entre tantos burburinhos internos que dizem: não exploda assim de novo. Todas as borboletas do estômago vão morrer.

Então, lance ácido; que o pH estomacal seja menor que dois; que eu seja capaz de matar qualquer borboleta não retribuída; que essa dor transparente seja colorida o bastante para ser enxergada antes mesmo da escravidão.

Ter esse sentimentalismo barato ardendo no peito lhe aproxima tanto dos outros, todos os outros, visto que cada pessoa, normal ou louca, é capaz de sentir amor por alguma coisa (que seja). Amar sozinho amplifica os efeitos do transeunte outsider. Queria alguém que me trouxesse pra perto de algo, pelo menos, uma única vez. E pedir isso é hedonismo demais para alguém como eu. Prefiro me ocupar com a sensatez de racionalizar as equações da vida, do que cair no enredo perplexo e infinito do amor.

Cale-se! Eu sei que falo grandes barbaridades, mas faço isso por causa delas. Delas? Sim! Por causa de todas as quinquilharias que se desfazem em meu peito. Esse eu estragado se solidificou. Mas, ao contrário do que muitos pensam – ou pelo menos, fazem – o amor não é líquido. Não deveria se liquefazer. O amor é, em suma, todos os estados da matéria. E meu egoísmo não me permite receber algo pela metade, com nome falso. Não vou levar o intestino no lugar do coração.

Pensando bem, também não adianta me entregar o coração e sair correndo. Não posso cuidar sozinha de dois corações. Quero ajuda. E tenho plena certeza que não há nada para se esperar. Os números incertos não enchem as estatísticas. As incertezas não compõem os tratamentos de dados. Trabalha-se com realidade e, a partir disso, a esperança é uma mera figurante. Quem se agarrar a ela, há de também se preparar para a possível quimera.

Queria manter todas essas inanias no fundo do oceano, mas atirá-las no papel me trouxe uma boa ideia. Dispô-las trás mais alívio. É como jogar fora uma geladeira que não conserva mais os alimentos e ter espaço para colocar outra no lugar. Se for para falar de asneiras, que eu termine como os parnasianos, fechando com chave de outro a janela que eu tinha aberta dentro de algum lugar. Se a disposição é comprar uma geladeira, que se aguente o estorvo, quando essa, o peito gelar.

Foto de Laura Makabresku.