Sylvia Plath

UM PRESENTE DE ANIVERSÁRIO

Publicação em homenagem à
Marceli Andressa Becker

O que é isto, atrás deste véu, é feio, é bonito?
Está cintilando, tem peitos, tem bordas?

Tenho certeza de que é único, exatamente o que quero.
Quando estou quieta, cozinhando, sinto-o olhando, pensando

"É para esta que devo aparecer,
É esta a eleita, com olhos fundos e cicatriz?

Medindo a farinha, cortando o excedente,
Aderindo a regras, regras, regras.

É ela que fará a anunciação?
Meu deus, que piada!"

Mas ele cintila, não para, acho que me quer.
Nem ligaria se fossem ossos ou um botão de pérola.

Não espero muito de um presente este ano.
Afinal de contas, estou viva por acidente.

Teria me matado alegremente naquele momento, de qualquer jeito possível.
Agora há véus, tremeluzindo como cortinas,

Os cetins diáfanos de uma janela em janeiro
Brancos como lençóis de bebês, brilhando como respiração mortiça. Oh, marfim!

Deve ser uma presa, uma coluna-fantasma.
Não vê que não me importa o que isso seja.

Não pode dá-lo para mim?
Não se envergonhe - não ligo se for pequeno.

Não seja mesquinho, estou pronta para a imensidão.
Sentemos, um de cada lado, admirando o brilho,

O vidro, sua variedade espelhada.
Façamos nele nossa última ceia, como prato de hospital.

Sei por que você não o dá para mim,
Você está aterrorizado

O mundo subirá num guincho, e junto sua cabeça,
Em relevo, brônzea, um escudo antigo,

Maravilha para seus bisnetos.
Não tenha medo, não é bem assim.

Apenas vou pegá-lo e me afastar em silêncio.
Você nem vai me ouvir abrindo-o, nem barulhos de papel

Nem fitas pelo chão nem gritinhos no fim.
Você não crê que posso ser discreta.

Se ao menos você soubesse como os véus matavam meus dias.
Para você eles são apenas transparência, ar puro,

Mas, meu Deus, as nuvens como algodão -
Exércitos delas. São monóxidos de carbono.

Suavemente, suavemente as inspiro,
Enchendo minhas veias com invisíveis, milhões

De prováveis partículas que marcam os anos de minha vida.
Você veste prata para a ocasião. Oh, máquina de somar -

É impossível para você deixar algo partir e partir por inteiro?
Você tem que carimbar cada peça de roxo,

Tem que matar tudo que pode?
Hoje só uma coisa desejo, e só você pode dá-la para mim.

Ela fica na minha janela, imensa como o céu.
Ela respira de meus lençóis, o centro frio e morto

Onde vidas desperdiçadas congelam e enrijecem para a história.
Que não venha pelo correio, de mão em mão.

Que não venha de boca em boca, eu teria sessenta anos
Quando ele fosse inteiramente entregue, entorpecida demais para usá-lo.

Apenas retire o véu, o véu, o véu.
Se ele fosse a morte

Eu admiraria sua profunda gravidade, seus olhos eternos.
Eu saberia que você falava sério.

Haveria nobreza então, e um aniversário.
E a faca não cortaria, mas entraria

Pura e limpa como choro de bebê,
E o universo fugiria de mim.