Raquel Gaio

HÁ UM SOLUÇO

há um soluço que estica todo o meu corpo. tece delicadamente meus perdões, e contrai minhas curvas como um gemido. verbos me escurecem e uma voz-cicatriz escorre pelo meu corpo.corpo.meus punhos tentam ser dissimulados, mas se traem nos movimentos : são confessionais demais. ardentes como uma ausência em erupção.
os verbos perdem as feições do rosto a cada noite e gaguejam como quem goza. confessam minha medida como se inaugurassem minha desordem (me violenta o desejo).
legitimo a carne através da confissão: meu corpo em pausa secreta.
uma flor de cacto beirando minha glote.
uma cólera me perfurando toda manhã.

Foto de Gerald Larocque.