Raquel Gaio

HÁ FICÇÕES

há ficções da noite que se revelam pela manhã
como chagas no nosso corpo.
sei do cansaço esculpido diariamente num canto esquecido da sala.
mitos se golpeiam dentro de nós
e ferem os céus das bocas sem búfalos.
há buracos que já não transbordam
estão entupidos de demolição.
enquanto você me lê,
as chagas continuam a nascer
como uma avalanche indecente na dobra de meu joelho.

por que nunca tentei me engasgar com o cabelo
quando terminava a manhã?

vi num aplicativo de celular:
o que tenho é uma doença degenerativa,

espantos sem princípios.

Foto de Patty Maher.