Roberta Tostes Daniel

PERDIDAS

perdidas as
dickenianas esperanças
você no fundo de um rio
pedras nos bolsos
onde se lê: bem vindo
a essa outra história

que mistura a cinebiografia
de vidas imaginárias
com letras açodadas pelas águas

resolve comparecer a este encontro
fraudado poeticamente
em suas próprias aniquilações
ínfimas

corroborar a ideia
dos alicerces
e do peso dos guindastes
sobre certas estruturas
concreto, músculo cardíaco
chapas de papel e aço
que te levam
do frio secular inglês
ao seu apartamento

você se recusa
a colocar mais lã em seu corpo
faz do edredon essa asa insólita
que agora te esquiva do mundo
enquanto não tem a menor ideia
de como reescrever certas palavras
anjo e soberania

continuar a escrevê-las
é o que te leva às ruas
para olhar os guindastes
e as praias cheias
de poeira branca

você diz lapa
você olha os bares lotados
de piercings, tatuagens
sinais digitais
concursos públicos

para sondar sobre as belas muralhas
humanas
a manhã que te acordou
sem esmorecer
fresquinha.