Rafael Lopes

VISITA

ontem recebi uma visita era tarde e cedo para minha morte enquanto eu revolvia absorto as vísceras rosadas de um frango em cima da pia de granito escuro um grito veio do fio de corte da tramontina novinha era a propagação do reflexo frio e úmido lâmpada /metal vi a baba da faca esc-horrendo por toda a eliminâmina rompendo peles e membranas e antecessores gallus gallus domesticus até chegar no primeiro cacarejo ouvido pelo homem.
voltando á visita inesperada para a ceia (era tarde, no relógio parecia que havia um só ponteiro) eis que batem com os nós dos dedos na porta olhei antes pela janela já não sabia que dia era hoje que invento era aquela hora primeiro entrou uma lufada de vento carregado de cheiro de brim puído e suado mas não trajava roupa alguma o corpo era uma áurea um contorno de terra-ocre sedimentos rudimentares um reinado bacteriológico e se confundia com o DNA do chão quando necessitava tocá-lo tudo o que eu via era leviano leve via de regra incompreensível por exemplo uma forma geométrica in vitro convexa de seis pontas infinitesimal era a boca lascada nos cantos o que parecia serem os pés tinha uma profundidade de meio metro na terceira (d)imer(nsão) as mãos ato real compreendi bem abanavam o pólen-nepal a uma sentença que não era silábica mas enérgética como todos os componentes daquele " corpo" tudo transformou a minha cozinha numa atenção extasiada para aquele evento e o Olho propagava fotocópias de dias que eu havia desdenhado o que eu não sabia o frango e a faca eram dois planos criptografados pela realidade interpretada aqui na terra foi no tempo corrido de dez anos-luz no vácuo que o ente-efeméride-anonymous com um gesto não convencional deu com os nós dos dedos na porta agora para sair lá fora chovia obliquamente (cinzas embebidas em enxofre) anos depois compreendi por meio do que chamamos de insight que nunca mais amanheceria a menos que sepultássemos todos os galos decapitados do mundo. um a um.