Márcia Barbieri

A PUTA (trecho: não há nada mais brochante)

Não há nada mais brochante do que uma puta triste. Prefiro à morte a exalar tristeza pela buceta. Só mesmo nas histórias dos latinos que as putas são decentes, infelizes e amorosas. Nunca conheci uma vagabunda que não gostasse de foder mais do que tudo na vida. E agora eu aqui, sozinha nesse buraco, disputando espaço com as formigas. Ninguém pra trepar. Um dia eu invoquei que iria me apaixonar pelo primeiro homem que me tratasse bem. Ou pelo primeiro que não enfiasse nada além do pau na minha buceta. Assim foi que eu me apaixonei por um maquinista. É difícil acreditar que um maquinista tem vida, é como se todos fizessem parte do trem, fossem apenas mais uma peça, um encaixe. Gostava de seu jeito de operar meu corpo, procurando engrenagens para me desfazer. Sinceramente não se de que lugar ele saiu, havia duzentos anos que os trens pararam de circular. Talvez ele só operasse trens na sua imaginação, às vezes, confundimos nossos desejos com a nossa realidade ou vice-versa. Olhando pela fresta ainda dá pra ver algumas carcaças. Depois que ele partiu nunca mais me apaixonei, e eu passei a observar todos os dias as carcaças sendo roídas pela terra. era um tipo especial de pôr-do-sol sobre as ruínas. O inusitado é que ele não tinha mais do que trinta anos e um dos melhores cacetes que eu já conheci. E ele não precisava de mais nada pra me fazer feliz. Desconfio que nenhum homem precise, desconfio que a felicidade só exista no meio das pernas e não dure mais do que o tempo de um orgasmo. Tampouco acredito em orgasmos múltiplos. Todos os homens que não souberam me comer me fizeram infeliz.