Julio Urrutiaga Almada

MÁQUINA DE MOER CARMA

Quero essa poesia morta
De orelha a orelha
Nós que não teremos
paraíso
Não quero o aviso
Insosso
De nenhum Bom Sense
Sem inocência
Que virou almoço
Ou lugar-tenente
De algum lumpem inteligentsia

Quero ao menos
A suja fossa limpa
E a sincera indecência

O sistema de moer almas
Nos quer desprovidos
De qualquer amor
À narina
Desprovidos da
Arte do cheiro
Ao inalar morte marinha
Sugamos com desespero
Fuligem e honraria

Por falta de fome e exemplo
Sou ainda o mesmo homem
Nome extenso pra guarida
Solidão pra passatempo
Comendo o momento
Me empanturro de futuro
E embriagado de ar
Nada me dói, eu juro
E mais pra dizer, diria
O desuso do silêncio
Há freio no amor puro
E excesso de conselho
Em excesso sem belo

Estátuas de sol
Ex-tratos humanos
A tela retina
Não retém
A guria dos olhos
Nem o trash lixo sistema
De fazer bicho
Espera sua esperada faxina

Decanto descartes
No teto desnudo
Do ter para ser
E do verso confuso
Sem verbo nem versão
Só esquecido
Eu grito poeta
E dos infernos
Não há notícia
A realidade
Não passa na televisão
Mundo caos caos casuístico
Mundo soda caústica
Ácido sulfídrico
Mundo imundo limpo
A ordem da tela parada
É seu enorme risco
Caos caos caótica ceninha
Carótida vertida no nervo
Ótico da mídia
Tele invasiva televisiva a
Quero tele invisível
A quero teleteletransportada
A quero extremista
No extremo lado do abismo
Bem fora da minha vista
Não façam a minha cabeça
Desfazendo a minha vista
Deixe que minha cabeça
Eu faço
No breve espaço
De minha língua
Salgada, doce, amarga, ácida
Realçada a realidade sem gosto
Sem bom gosto
Sem tostão
Sem crédito
Sem dívida
Sem antidepressivo
Sem sem sem sem sem
Caos sem solução
Sem caos sem caos
Caos caos caos caos
Eu e ninguém
Mais mais mais mais
Tudo não vem
No viés da volta
Do amanhã talvez
Estamos sós
Estátuas salgadas de sol
Ai de nós eu de nós
Eu eu e eu ai de eu
Nessa casa imediata
Sou obra de alguma
Profana nostálgica
Obra de um depauperado
Hoje eu brinco
Sei que hoje é uma
Relíquia amor
E amor é uma relíquia
Como verbo amar
Amar amar amar amar
O tempo é o tempo do desgaste
Enquanto não desgaste é um contratempo
Um contra gotas como diriam
Os contra tudo de algum diríamos
Amor eu sou a negação exata
Da contrapartida esperada
E o amor é agora um artigo em desuso
Limpando a bunda
Do fátuo sentido de não mais sentir
Luz aureola maldita
Deixe eu possuir a bendita
Forma de estar bem no escurinho
Linda amada do amor que não conheço
Rasgue meu ventre infecundo
O amor é uma forma de nauseabundo
Amanhecer dentro dos pútridos
Odores tornando-se outros
Apátridas ósculos do mundo
Não me meta o cano na testa
Louca via feito matéria
Minha poesia é podre
E petrifica o enviado
Tudo já está escrito
E eu escroto escrevinho
Entra linhas coisa incapaz
Esse é assim
Sobre tudo sobretudo
De forma mais vulgar
Pois não saio e versejo
Quando costumo ser besta
Saindo do casulo
Besta dissimulada
Besta na tua pupila estragada
Irmã
Vamos saber o inferno
Desde a flor sem semântica
Nós somos o tremer
Do terremoto invernal
Achas que estou brincando
Flor dos infernos?
Toque a minha epiderme
Não termal e saiba que é
Quente
Aquele que não imberbe
Guarda o tempo de crescer
Para invadir a intempérie
E aquecer o desprazer
Samba sem tristeza
É nave sem destino
Menina dos olhos menina
Não me desgraçe
Eu só queria olhar e agora
Sou esse mercúrio derramado
Ninguém poderá
Voar
Voar
Voar
Voar
Voar
Voar
Voar
É artefato
Dessa via cruzes do inexato
Eu vôo
Cem mil vezes por dias
Flor de lótus é meu prato
Frio e exato
Amor quando não palavra
Falavas e eu tudo nada ouvia
Amada cor inflamada quente fria
Surda do ouvido com olvido
Linda linda feia feia
Pedra da mais espessa substância
Eu sou o pouco do porco asco
Asco asco asco asco
Luz luzindo luz luzindo
Merda do oceano nominado
E abro em atos atos atos atos
E não há atos sem os quebrados
Farrapos de algum bate-papo
Um poeta daqui
É um poeta aqui?
Quem és tu
Algum aqui?
Tenho a boca prostada
Filho da puta
De um esteta
De algum sagüi, algum sagu, algum sou GO
Filho de uma bem vendida puta
Cuidado aqui não há nenhum desvio
Só um deságuo
Mas se cuide:
Muita luz queima a vista à vista
E corra para o pátio aonde há muita festa
Não seja louco uma vez por semana
Isso faz mal para a saúde pública
Uns te desejarão outros esquecimento
E eu que sou cão só mijarei no teu intento
Vai à merda querido
Ninguém pode ser dois
Em duplo sentido
E ande comigo
Se não quiser ser
Comido
Pelo jacaré dos sentidos
Eu espeto a vida amorfa
Eu espeto a bomba morta
Louca brisa de nenhum amigo
Teoria de escrita é como
Mãe esquecida
Pouco existe e quando
Faz algum sentido
Deite querido
Não me refiro a ti
Como amigo
Amigo não são
Nem os meu dentes
Que mordem a tua língua?
Homem do inferno
Inferno triste vocábulo
Te parto em fomes
Infame
Te parto em formas
E fôrmas?
O calabouço desse teatro
Nenhum humano
E reclamas
Falta poesia?
A alma grega é
Essa
Conforme
Forma tua
Indigesta
Queres que eu morra?
Filho?
Eu morro em cada
Lábio pintado
Em cada verso
Impedido
De sentir meu afago
Eu não escrevo
Eu deslizo
Por meus naufrágios
E cada rua sem saída
É essa pergunta
Quem é esse que tranca
As linhas?
O neurótico? O?
O narcótico?
Coma merda um mais
A merda te salvará
Se é merda já conheces
Já navegou por teu corpo
Termina o ciclo que começas
Paredão não te parará?
Feche os olhos, cílios
Ciliares flatos te salvem
E pedras as pedras retornem
O amanhã é fábula
Pressinta o presente sentido
E à merda volte ali é
O seu recinto
Não me desengonce a vida
Eu sei andar em desalinho
Beba minha hora final
Irmã do meu último sentido
Criança flor não nascida
Invada meu nunca insidio
Minhas mãos velhas infâncias
Me impetram um esquecimento
Esqueça essas palavras
Bom é falar sempre mundinho
É mascar o não sei e cuspir
O já venho
E o medo?
Você tem medo?
Há quanto tempo?
Há tempo que o tempo não tem tempo
Para amedronnnnnntar!
Este medo tem medo de existir
Não tenha medo de desistir
De ter um medo assim

Medonho e queres que te chames de querido?
Acalentas infernos, amedrontras hojes felizes
Anseias o do teu inimigo e o chamas
Chamas os queimam e pensas:
Tudo tranqüilo?
Maquinas?
Eu sei que pensas
Mas não maquinas
Te acalma
Te ponho lentamente
Em crise.

Minha máquina de moer
Ai não te preocupes
Minha máquina de moer carma
É a calma do universo que errou
E o erro tem o perdão do acerto
Não se esconda na fresta
Não esbugalhe os olhos
Te viro pelo avesso
E depois morro pela eternidade
Meu belo divã

Os ossos tensos
Os vácuos densos
Amor nenhuma flor

Morte quase certa

Amor e homem-mulher
Mulher-homem
Melhor
Mulherhomemmulherhomem
homemMulherhomemMulher
aliás lilases amálgamas mordazes
poesia morta eu nascerei contigo
abre meu olho e nem a morte certa
fecha o que o olho neste instante
abriu como fresta

Menos súditos e mais famílias reais, famílias de mil membros leais de um milhão e meio de motivos a mais e chega de veneras um e viva o deveras.