Fernando Ramos

RELATOS DE VIAGEM

A simpatia das hienas de Cartagena não foi melhor que a novena das harpias em Viena nem pior que o esculacho dos muchachos borrachos em Istambul; foi mesmo igual às lindas filipetas das fanfarras dragonescas de Seul. A indiferença iguala e inebria feito amargo rum ao corsário mal amado dono de um olho e filho de Khun, láudano da cássia fístula, fado dobrado nas cordas da malfama de um cordão de um. Passageiro invisível do trem que um dia foi azul, minhalma pesada qual rancor de Garrastazu ficou atracada ao limbo dos pélagos do Cruzeiro do Sul, no fogo cruzado entre tutsis e hutus. Morri, mas permaneci acordado, achei alçapão debaixo do caixão, cavei com as mãos e uma colher de sobremesa um túnel que levasse da morte ao céu das lesmas, trombei ao acaso com Hitler morando nos esgotos de Veneza. Fumamos charuto, comemos repolho e ouvimos Wagner. Foi uma beleza. E qual não foi minha surpresa, então, ao tropeçar nos restos de Tutancâmon, ao que um mordomo persa salta de uma fresta e, sorrindo, oferta-me o cetro de Ramsés Segundo. Ao tocá-lo, nos subfractais de um segundo subverteu-se todo o mundo, visava agora às vazantes do Nilo brotando dos mamilos de Shiva a dançar a roda da vida e da morte que revida ao cume do Himalaia. E não era Zaratustra nem Gaia, mas como se tivera o Aleph entre os bibelôs da sala, divisava do alto a Terra na infernália, os círculos dantescos aprisionando as reses num delírio de Foucault, Metropolis à hora do rush, no metrô; a madame devorando o escargot sem notar aos olhos a compaixão típica de um mamífero. E vi a ribeira das águas, ora espúrias em mercúrio e ferro purpúreo, matarem de sede aqueles que deitam sobre o Aquífero Guarani, arrabalde sagrado do legado tupi; a foz esconde a voz das seriemas qual a luz que cospe o pus afaga as chagas do poema. Viajar não é problema. Mas voltar. Eis que Hemingway explode as ventas. Eis a raiz do estratagema. Todo um país de alma pequena, andando atrás de um só fonema: não. De volta à ditadura, com voto na mão. Aleluia, irmão! Acordei no meu caixão. O clima tá perfeito prum filminho bom. Que tal São Paulo S/A, do Person?