Cruzeiro Seixas

QUERIA CONFESSAR-TE

Queria confessar-te
tudo o que tenho e o que não tenho
mas nem sequer sei se ainda estou vivo
depois de tantos naufrágios.
Duvido daquilo que vejo
cercado como estou por relógios
tão efêmeros como as nuvens.
Os meus olhos
Já não acreditam no mar que refletem.
Os ombros ficaram lá para trás.
O nevoeiro oculta por completo
aquilo que já dificilmente era visível.
E é em vão que as unhas ferem o espaço.
Os labirintos têm agora
setas indicadoras do sentido do trânsito
e há em todos os recantos
abandonadas gargalhadas obscenas.
Há um verso que se esqueceu do seu próprio leito
e que é uma terrível ameaça às gaivotas.
Estes dias não são convincentes!
Olha meu amor os insetos
e o pouco espaço dado ao lutar.
As palavras
são tomadas de tremor dos grandes momentos.
Algures um grão de areia procurou outro grão de areia
e ninguém escreveu a sua história.
Os manuscritos são levados pelo vento
para países de analfabetos.
Um gato e um cão fazem amor
e um dinossauro olha-os do fundo dos seus preconceitos morais.
Estamos no princípio ou no fim?
Esta mão é a minha ou é a tua?
O espelho caiu
levando a tua imagem.