Carlos Eduardo Marcos Bonfá

UM CÃO

Um cão deformado me acena.
Ao invés de uma poética cerebrina,
Me late uma poética cerberina.
Quer que eu transfigure a cidade
Através da fosforescência do mal.
Mas moro no interior.
Mesmo assim a poesia está na rua:
Às vezes cheira ipê em uma praça,
Outras vezes, pastel de feira.
O cão deformado não é Cérbero
Nem o Demônio,
Pois hoje não atualizarei nenhum mito.
Também não haverá praia,
Como deseja Paulo Henriques Britto.
O que haverá é um banco
Em uma praça com ipê,
E um pastel, quase tão amarelo
Quanto o ipê, na minha mão.