Arthur Rimbaud

UMA TEMPORADA NO INFERNO (Trecho: o sangue pagão retorna)

O sangue pagão retorna! Se o Espírito está próximo, por que Cristo não o ajuda, dando à minha alma nobreza e liberdade? Ai, o Evangelho caducou! O Evangelho! O Evangelho.
Aguardo Deus com gula. Sou de raça inferior por toda a eternidade.
Eis-me na praia provinciana. Que as cidades se acendam de noite. Minha jornada terminou, abandono a Europa. O ar marinho queimará meus pulmões, climas ignotos me curtirão. Nadar, desbastar verdes, caçar, sobretudo fumar; tomar bebidas fortes como metal fundido, como faziam nossos caros metal fundido, como faziam nossos caros ancestrais em volta do fogo. 
Voltarei, com membros de ferro, a pele sombria, olhar furioso; pela máscara, me julgarão raça forte. Terei dinheiro; vou ser ocioso e brutal. As mulheres cuidam dos ferozes doentes de volta dos países tropicais. Entrarei nos negócios políticos. Serei salvo.
Por ora sou maldito, tenho horror da pátria. O melhor é um sono bem bêbado na praia.