Arlene Lopes

DANO

arrancaram-lhe da mãe
arrancaram-lhe a mãe
arrancaram-lhe as unhas dos dedos do pés
que topavam com as pedras sem nenhum obstáculo
arrancaram-lhe os dentes de leite
e as amígdalas

Quando o pai foi arrancado, também arrancaram-lhe a irmã
os plantaram numa cova dupla , os cobriram com terra infértil
os regaram com água salobra
nunca brotaram

arrancaram-lhe a cama, as roupas
a casa, as lágrimas
Arrancaram-lhe um filho, o útero, a avó,
o peito, os sisos e o juízo
escreveu para repelir seu desejo de morte
matou recordações
julho é um bom mês para morrer.